domingo, 13 de setembro de 2009

"Tempos modernos": o fim de Carlitos e do cinema mudo em Chaplin

(Por Diogo Ribeiro)

Tempos Modernos é o último filme estrelado pelo vagabundo. Carlitos foi devorado pela crise "financeiro-emocional-político-moderna e etcteriana" vivida pelas pessoas nos dias de hoje. O vagabundo teve de sair à procura de emprego... Tempos Modernos é um filme engraçado, mas não alegre. Nessa obra-prima do cinema mundial, Charles Chaplin descreve a profunda melancolia da vida moderna com boas doses de humor provocadas por seu personagem Carlitos .

O relógio, ícone dos dias atuais, "corre corre corre" empurrando o tempo para frente. Os homens, enlouquecidos, voam atrás do tempo que não desejam perder. O tempo, rindo de toda essa bobagem, passa ainda mais rápido, deixando esses pobres comendo poeira. Nessa eterna luta contra o tempo, os seres humanos desgastam suas relações interpessoais, tornando-as cada vez mais frias, duras e impessoais. Afinal, se "eu não tenho tempo nem pra mim, vou ter para as outras pessoas?" – é o pensamento egoísta da época moderna. A rapidez é essencial nessa vida desses seres modernos. O tempo, sarcasticamente, continua rindo: "corram, ou devoro-os!!!" O homem, então, constrói máquinas para agilizar e apressar a sua vida. Surgem as grandes indústrias, com o seu massacrante processo de reprodução mecânica. Máquinas trabalhando, homens desempregados e, é claro, dinheiro para os grandes empresários – donos das máquinas. Para os governos, ótimo: mais dinheiro para as suas "máquinas do Estado".

Com toda essa confusão, o Carlitos, coitado, enlouquece. Corre, como os outros mortais, atrás de emprego. Como quem tem emprego pode se tornar um desempregado, Carlitos também assume o outro lado da moeda. Estando desempregado, chega a roubar para comer. Quem diria, até cantou!!!! Certa vez, alguém chamado Villegas López, disse em uma frase algo que resume tudo isso: "Em Tempos Modernos não temos mais o drama de Carlitos, mas Carlitos vivendo o nosso drama".

Tempos Modernos é o primeiro filme em que Chaplin fez uso de efeitos sonoros. A partir desse filme, até discurso falado ele fez (O Grande ditador) . Podemos dizer, então, que Tempos Modernos é um filme de transição na carreira de Chaplin: do cinema mudo para o moderno cinema falado. Entretanto, deve-se considerar Tempos Modernos ainda um filme mudo, melhor, um filme com a proposta de ser um meio termo para a fase que o cinema já vivia, uma vez que, nessa época, o cinema falado já dava seus gritos adolescentes. "Enquanto a maioria dos artistas vindos do music hall para o cinema do início do século, Chaplin foi o único que se manteve fiel, diante das câmeras, aos tradicionais gags e maneirismos da farsa inglesa do século XIX". A sonorização de Tempos Modernos, contudo, feita pelo próprio Chaplin, é perfeita. Duas músicas do filme fizeram muito sucesso fora da tela: a canção-tema e uma canção feita com palavras ininteligíveis que Carlitos inventou na hora. Foi nessa canção que a voz de Chaplin foi ouvida pela primeira vez na tela. Apesar da confusão causada pela linguagem pouco inteligível, percebe-se, segundo Cony (1967), o estribilho "Vou atrás de Titine". Fellini, ao fazer I Vitelloni, homenageou Chaplin incluindo esta canção em seu filme.

Esse é o primeiro filme em que ouvimos a voz de Carlitos e o último que o vimos atuar. Terá sido Carlitos engolido pela modernidade?

Nenhum comentário:

Postar um comentário